quinta-feira, 10 de maio de 2018

Nove anos de ausência, meu avô querido


Nove anos de ausência de ti meu avô querido, meu amor eterno. Nove anos de saudade, este sentimento que trago sempre colado no coração. Nove anos sem ti, que parecem uma eternidade. Ultimamente, tem vindo a crescer dentro de mim um medo irracional: esquecer-me, esquecer-me da tua voz, do teu rosto, do teu jeito. Esquecer-me das roupas que usavas e da forma como me fazias rir. Vivo em constante sobressalto com a ideia de, um dia, me faltar a memória e eu esquecer-me de tudo isso.

Nove anos sem ti. E sinto tanto a tua falta. E sinto tanto a falta de quem era contigo. Tinhas o dom de fazer do mundo um lugar melhor, mais alegre e colorido. Tinhas o dom de alegrar os meus dias, fazendo-me acreditar que eu era princesa de verdade e que o meu reino era o nosso jardim. Fizeste de mim a criança mais feliz do mundo. Fizeste de mim uma pessoa melhor, mais bondosa, mais atenta, mais doce. Quando ficaste doente, senti que me tinham tirado o chão, o mesmo chão que eu julgava sólido e inquebrável. Quando ficaste doente houve uma parte de mim que se apagou. Esmoreci, perdi a vontade de rir. E quando a doença levou a melhor e foste embora, foi como se a minha ligação ao mundo se tivesse quebrado. O único laço que, naquele momento, me ligava à realidade eras tu. E quebrada essa ligação, esse laço, senti que caía no abismo. Deixei de ter um propósito. Deixei de ter força de vontade. E durante muitos anos não consegui chorar a tua perda. Não consegui fazer o luto. Refugiei-me nas memórias de infância e continuei a fazer de conta. Escondi-me na retaguarda das fotografias e dos objectos e quase sufoquei com as lágrimas que não quis chorar.

Dizem que nove é o encerrar de um ciclo. Talvez só agora, nove anos depois, esteja a conseguir chorar a tua perda. Talvez só agora esteja a conseguir aceitar que estás num lugar melhor, mais bonito, sem dor nem sofrimento nem doenças estúpidas. E, por isso mesmo, passados nove anos, decidi marcar na pele o lugar onde te encontras. Tatuei esta nuvem para nunca me esquecer que, mesmo longe, continuas perto. Basta erguer os olhos e ver as nuvens, as mesmas nuvens brancas e fofas que tu dizias serem feitas de algodão-doce. De cada vez que sentir a saudade sufocar-me, vou olhar para esta nuvem e lembrar-me de que estás por perto, de que estarás sempre por perto, a cuidar de mim, a orientar-me, a fazer-me rir, tal e qual como quando eu era a princesinha lá de casa e tu o avô mais querido do mundo.

Tenho saudades tuas avô. Tantas.


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