terça-feira, 8 de maio de 2018

Lugares-Amor

[Fotografia da minha autoria]

Há lugares que são nossos, mesmo que nós não sejamos deles. Lugares que são mais, muito mais, do que um espaço físico com limites impostos. São lugares sem tempo, perpetuados e construídos ao longo da história, crescendo a cada estória dos que por lá passaram. São lugares que nos engolem metade da alma, que se nos colam à pele, que se entranham no mais profundo do nosso ser. Lugares que são amor à primeira vista, onde já tínhamos estado mesmo antes de estar. As suas ruas, os seus aromas, os seus ruídos, tudo nos é familiar, tudo nos causa estranheza, aquela estranheza de saber sem conhecer. São lugares-abraço, que nos amparam nos momentos decisivos. São lugares-carrossel, que nos desarmam, que nos tiram as certezas. São lugares-espelho, que reflectem a nossa verdade, não a que construímos, mas sim aquela que nasceu connosco e que escondemos durante anos e anos. Lugares que nos devolvem a forma e o começo, que nos deslindam e desenham.

Paris é um desses lugares. Cidade que visitei aos trinta, com a sensação de que lhe pertencia desde sempre, desde o tempo antes de nascer. Não foi só a beleza ou a magia ou a luz que me arrebataram. Foi mais do que isso. Foi a certeza de que não era a primeira vez. Foi o bater do coração descompassado, a sensação de ter chegado, a vontade de me perder para sempre nas ruas e vielas e relembrar tempos dos quais já não me lembro. Consegui sentir no ar a energia de grandes almas. Quase consegui ouvir poemas e violinos na brisa que passava. O frio não era frio. E os passos faziam-se sozinhos, como se levitasse, como se quisesse absorver tudo para dentro de mim.

Saí de lá com a melancolia de quem se despede de alguém querido. Saí de lá com a promessa de voltar, de voltar sempre que o coração me pedir. Saí de lá com esta certeza de que há lugares que são nossos, que nos pertencem, simbiose perfeita com a nossa alma. Saí de lá com mais dúvidas do que as que levava na mala, mas com aquela certeza estranha de que não posso fugir de quem sou, de que não posso seguir caminhos que não são os meus, de que não posso contrariar esta vontade indomável de colocar momentos e emoções em palavras.

Há lugares assim. Gosto de chamar-lhes lugares-amor.

2 comentários:

  1. Sabes que os carrosseis de paris (e os croissants) foram das poucas coisas que gostei da cidade? Achei-a muito confusa e muito suja. Tem uma arquitectura maravilhosa mas no geral não me deixou vontade de voltar. Estive lá 3 vezes porque tinha o namorado a viver lá e de todas as vezes fiquei com a sensação que faltava algo para cair de amores. Mas a maravilha do mundo é mesmo esta, os mesmo lugares conseguirem trazer sensações diferentes às pessoas <3

    beijinhos
    Vânia
    Lolly Taste

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    1. É engraçado, a minha amiga que vive lá diz exactamente o mesmo que tu! Que apesar de já lá viver há quatro anos, ainda não conseguiu apaixonar-se pela cidade! E sim, é mesmo giro como os mesmo lugares conseguem tocar as pessoas de formas diferentes!
      Beijinho grande minha querida**

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