domingo, 13 de maio de 2018

Fora de Horas


Gostava que me visses além do que vês. Que me olhasses sem medo. Que não te refugiasses atrás de uma indiferença que me magoa e me tira o ar. Queria tanto que me visses além do que vês. Que enxergasses além dos meus olhos pintados e dos meus silêncios furtivos. Que vislumbrasses além do meu sorriso tímido e dos meus medos insanos. Que me entendesses além das minha teorias complicadas e do meu coração em desvario. Queria tanto que me visses além do que vês. Que não te importasse o meu cabelo pintado de ruivo, da cor do meu vestido e do meu batom. Que não te importasse a bagagem [demasiado] pesada que trago atrelada a mim nem a dor que me atormenta. Que não te importasse os amores a quem me dei nem os erros que cometi. Como eu queria que me visses além do que vês. Que não tivesses medo da minha euforia intercalada com a melancolia dos meus versos. Que não tivesses medo dos fantasma que habitam a minha alma nem das dúvidas que assaltam os meus dias. Que não tivesses medo dos meus sonhos em demasia nem da minha necessidade de espaço e amor. Hoje só queria que me visses além do que vês. Que não te afastasses de cada vez que me aproximo. Que não te escondesses de cada vez que te procuro. Que não te camuflasses por detrás de palavras que não me tocam e de gestos que não me dizem. Só queria que me olhasses nos olhos e visses o que está do lado de cá, neste coração descompassado a transbordar de amor. Só queria que me olhasses nos olhos e visses a menina escondida por detrás do escudo. Só queria que visses a ternura disfarçada de força. Só queria que me olhasses na alma e visses a tua casa.

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