segunda-feira, 18 de junho de 2018

Escrever para ti

Gosto de escrever para ti. Deixar fluir as palavras tão cheias de emoção. Acreditar que chegam a ti, serenas e seguras. Acreditar que as recebes com ternura. Gosto de escrever para ti, ao fim do dia, noite dentro, como quem limpa a alma do amor acumulado, como quem esvazia o coração do amor gasto, substituindo-o por amor fresco. Escrevo para ti como escrevia no meu diário de menina, fazendo-me por inteiro a cada frase, a cada verso, a cada vírgula ou a cada ponto final. Talvez seja esta a melhor forma de serenar o meu coração sempre tão descompassado, devolver-lhe o ritmo e fazer dele alcova de sossego. Talvez seja esta a forma mais honesta, clara e verdadeira de me expressar, de te dizer tudo aquilo que as palavras faladas não conseguem. Por isso digo, não raras vezes, que poderia escrever-te livros inteiros, bibliotecas inteiras, universos inteiros. Poderia passar todos os meus restantes dias a escrever para ti. E tenho a certeza quase certa de que ficaria algo por dizer. Porque este amor que me consome é como que indizível. É feito de luz e de sombras, de verão e primavera, de silêncio e melodias. É um amor antigo, crescido, ainda assim conservando em si o encantamento dos amores primeiros. É um amor de dentro, que vem das entranhas, do oco do coração, do ribombar do sangue, da inspiração mais profunda. É um amor diluído, que abrange e aperta, que afaga e afasta, que permanece e se desvanece nos dias que correm apressados. É, por isso, um amor que só as palavras conseguem expressar. Gosto de escrever para ti, acreditando que, um dia, irás ler cada uma destas palavras, consciente do quão solitária e inglória pode ser esta minha esperança.


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