quarta-feira, 23 de maio de 2018

Síndrome da eterna adolescente

Quando sou assomada pela ansiedade e fecho os olhos, volto a ser a menina de quinze anos. Dou por mim naquele meu jeito entre o medo de ser e a vontade de me expressar. Sou outra vez a adolescente com os olhos pintados de preto [sempre em demasia] que escrevia poemas nas aulas de matemática enquanto olhava pela janela e desejava voar, qual pássaro enjaulado dentro de si próprio. Fecho os olhos e ainda sou muito essa menina a quem tiraram o chão e a quem a solidão engoliu. Coração descompassado e paixão fácil mas duradoura. Com medo de si própria e dos fantasmas que lhe consumiam as noites e os dias. Amante das letras, porém confinada a um laboratório de ciências cujos cheiros provocavam náuseas e onde o amor era expiado em todas as cores oferecidas pela junção de químicos num tubo de ensaio. Há dias em que sinto que, no fundo, terei sempre um quê dessa adolescente deslocada. Ainda sinto que me falta muito tempo até ser grande. Ainda gosto de ouvir as minhas músicas no meu canto, enquanto invento histórias de amor na minha cabeça. Ainda gosto de me sentar no chão a escrever versos. E ainda me apaixono irremediavelmente, como se o mundo fosse acabar se eu não sentisse esse amor. Tantas vezes ouvi que tinha de crescer que agora, já crescida, continuo a sentir-me mais nova do que sou, mais miúda do que mulher, mais filha do que possível mãe, mais pé no chão do que salto alto. Talvez seja a síndrome da eterna adolescente, com a leveza e a graça que isto do passar dos anos confere.


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