sábado, 5 de maio de 2018

Fora de Horas


Dá-me a tua mão. Vamos voar por aí. Encontra-me na madrugada deste dia doído e faz de mim amanhecer em flor. Dá-ma a tua mão e leva o meu mundo inteiro e a minha alma multiplicada por cada poema que habita em mim. Faz da minha pele a tua casa e do meu perfume o teu ar. Mostra-me os lugares por onde andaste e aqueles que queres conhecer. Salva-me. Salva-me de mim e de todos as sombras que me perseguem, da melancolia que me sustenta e do outro lado que quero esconder. Faz de mim leve pena que voa sem esforço. Faz de mim a tua companhia de vida, o teu ombro seguro, o teu colo de amor. Dá-me a tua mão e a promessa de que não mais a vais largar, de que não mais me vais largar, nem esquecer, nem perder num intervalo qualquer. Juntos, de mãos dadas, iremos percorrer todos os vales, escalar todas as montanhas e perseguir todos os arco-íris, na esperança de guardar um bocadinho de cor para colorir os dias cinzentos da nossa velhice. Dá-me a tua mão e faz escorrer pelos meus dedos a certeza de um chão seguro, de uma casa por inteiro, de um lugar com nome. Afasta este tormento que me consome, esta necessidade contínua de transformar emoções em palavras, de calar lágrimas no peito, de esconder segredos nas entrelinhas das cartas que te escrevo. Dá-me a tua mão nesta noite que agora começa e devolve-me a inocência dos dias idos, das Primaveras perdidas, dos versos esquecidos. Dá-me a tua mão e seremos por inteiro, numa ilusão partilhada, num sonho na contra-luz, num palco adornado por flores e estrelas cadentes. Fiquemos assim, de mãos dadas, enquanto nos restar a força, enquanto houver faz-de-conta, enquanto esta noite durar.


Sem comentários:

Enviar um comentário