quarta-feira, 2 de maio de 2018

Abraços



O melhor lugar do mundo é dentro de um abraço. Um abraço que pode ser de saudade, de amor [nas suas mais diversas e intrincadas formas], de despedida ou de cansaço. Há abraços de todos os géneros e de todos os credos. Acredito que os abraços são lugares. Atrever-me-ia a dizer que os abraços são mundos inteiros, onde podemos viajar e descansar, descobrir e descobrir-nos, avançar e recuar ao compasso do coração.

Há abraços que nos protegem do mundo de fora e nos permitem viver no nosso mundo de dentro. O abraço da minha avó era assim, um abraço que me protegia dos fantasmas que eu acreditava povoarem o meu quarto durante a noite e a minha alma durante o dia. Era o abraço mais quente e aconchegante do mundo. Cheirava a perfume de rosas e a amor. E não houve mais nenhum igual.

E depois há abraços que nos libertam. O abraço do meu avô querido era assim, um abraço que me libertava, que me deixava ser eu, que não me exigia nem julgava. Era o abraço mais sincero do mundo, porque me devolvia a forma e as certezas, os sonhos e a segurança de que seria sempre amada, independentemente do rumo ou do estado dos dias. Era um abraço que cheirava a maresia, a azul e a poemas. E não houve mais nenhum igual.

Nos dias em que a chuva cai e sinto que ando a pairar sem saber bem para onde ir, retorno a esses abraços e recolho-me por instantes. Porque há abraços que são para sempre, eternizados na alma, enraizados naquilo em que nos tornamos. Abraços para onde podemos sempre voltar quando a vida nos dói.


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