sexta-feira, 8 de junho de 2018

Há amores que não se explicam

Há amores que não se explicam. São estranhos, irrisórios, improváveis. São amores que transcendem o corpo, o tempo e o espaço. Amores de sempre e para sempre. São amores que não precisam de fórmulas matemáticas ou intrincados de geometria para se fazerem entender. São amores afectos às palavras ternas e às melodias suaves que adoçam os dias e as quatro estações. Amores de muitas vidas, de tantas vidas, que não envelhecem nem se desgastam. Há amores que não têm guião nem ter de ser, nem se coadunam com o mundano ou com as linhas que os outros traçam para nós. Podem começar num simples olhar à revelia, num meio sorriso escondido, num toque acidental. Podem começar nas ruas de uma cidade perdida, entre quatro paredes sem janelas, num jardim de tulipas ou numa praia sem mar. São amores que vêm de cima, do abstracto, das nuvens, dos astros. São amores amigos do mistério intuitivo que tudo explica sem nada explicar. Amores que não se percebem, que não têm tradução nem chave-mestra que os possa deslindar. Amores que se desenham a lápis de cor, tão coloridos como telas, como primaveras enfeitadas por mil flores. São amores de além-ser, amores marcados na alma e no caminho mesmo antes de aprendermos a caminhar. São amores duais, uma bênção e um tormento. Por não terem definição é quase impossível dizê-los. Por não fazerem sentido é quase impossível fazer com que sejam sentidos. São também amores solitários, grandes demais para serem partilhados e entendidos até por quem tudo entende. Amores que se tornam segunda pele, segunda vida, aliados de todas as horas, ternura de todos os dias. Amores companheiros, fiéis escudeiros, chão firme para onde podemos fugir quando tudo é incerto. Amores que não precisam de mais nada além de duas almas desencontradas que finalmente se encontram.


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