segunda-feira, 28 de maio de 2018

Amor | Indiferença

Durante muitos anos, acreditei que o contrário do amor era o ódio. Que o contrário das palavras boas eram as palavras más. Que o contrário do estar era o não [querer] estar. Durante muito tempo acreditei que assim era, que o contrário de um sentimento era outro sentimento, igualmente forte, igualmente avassalador, igualmente capaz de tirar o sono e transformar os dias num rebuliço. Entretanto percebi que não é bem assim. Entendi que o contrário do amor, daquele amor-paixão-capaz-de-nos-fazer-ir-à-lua-e-voltar-muitas-vezes, daquele amor-que-não-deixar-descansar-o-coração, não é o ódio. O contrário do amor é a indiferença, o tanto faz, o nem me lembro. E a indiferença dói tão mais do que qualquer ódio. Porque a indiferença é o espelho concreto e definido do não-quero-saber, do não-me-importa-minimamente. A indiferença é o tanto faz. É o ser absolutamente igual estares ou não estares. E acredito que, num amor nem sempre correspondido, é essa indiferença que mais dói. É a ausência de palavras, de um desculpa-mas-não-dá, que mais dói. É o seres tão transparente aos olhos de quem amas que mais dói. Atrevo-me mesmo a dizer que o que nos mata o amor é essa indiferença. E à medida que ela se agigante, o amor que sentimos vai recolhendo, diminuindo, até se transformar num ponto pequenino perdido naquilo que foi a ameaça de uma bonita história de amor.


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