quinta-feira, 7 de junho de 2018

O amor-perfeito escolheu ser flor


Quase podia jurar que eras o meu amor-perfeito, que serias, para sempre, o meu amor-perfeito. Depois de um longo caminho, de muitas tempestades e de tantos desamores, cheguei a ti como se tivesse chegado a casa. Vi em ti porto seguro, terra firme, o pote de ouro que o final de arco-íris promete. Vi em ti jardim de alfazema, canteiro de ternura, prado de esperança. E acreditei, como quem acredita em dias de sol eterno, que serias o meu amor-perfeito, a minha história predilecta onde cada página tivesse o aroma do mar e cada capítulo encerrasse em si um final feliz. Vi em ti esse amor-perfeito que durante tantos anos ansiei, o mesmo amor-perfeito com o qual adornei os meus livros e todos os poemas que escrevi. Acreditei que eras e serias para sempre o meu amor-perfeito, delicado e colorido, resistente às intempéries e às sombras da alma em dias não. Como acreditei que fosses o meu amor-perfeito! Os teus braços seriam pétalas onde poderia repousar os meus medos e o meu riso e os teus olhos seriam fonte de água cristalina onde poderia saciar a minha sede e perder-me de amor. Mas o amor-perfeito que acreditei em ti ver não foi mais do que utopia, ilusão fabricada pelo meu coração sonhador. O amor-perfeito que quis que fosses não foi mais do que promessa anunciada, história de encantar daquelas que só existem nos livros e nos filmes de domingo à tarde. O amor-perfeito que acreditei ver em ti não foi mais do que um reflexo do meu desejo insano de amar sem medida, de me dar por inteiro, de me restaurar e recomeçar uma vida nova, sem dor, nem fantasmas no sótão, nem abandono, nem tapetes arrancados dos pés. O amor-perfeito que em ti vislumbrei não foi mais do que um sonho, aqueles sonhos que nos preenchem os vazios quando a vida nos falha. Acreditei que eras tu o meu amor-perfeito. Mas o amor-perfeito escolheu ser flor.


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