quinta-feira, 14 de junho de 2018

Cartas da meia-noite

Meu amor, mais um dia de ausência de ti. Sem o teu cheiro, Sem o teu toque. Sem o teu amor prometido. Mais um pôr-do-sol sozinha, na varanda lá de cima. Sim, converti a varanda num altar de contemplação do sol que diz adeus. Todos os fins de tarde, subo para lá, sento-me no chão, e fico a olhar. A olhar apenas, tentando esvaziar a saudade do coração. Espraio o olhar no horizonte e, por mais que tente, é impossível não desejar o teu ombro ali ao meu lado. É impossível não sonhar acordada e sentir que estás lá comigo, a olhar o mesmo sol que diz adeus, a partilhar o meu silêncio, esse silêncio que tanto diz, a entrelaçar os teus dedos nos meus e a fazer-me acreditar que não preciso de mais nada para ser feliz. Depois de o sol se pôr, sou inundada pela realidade, a mesma em que tu não estás. Desço as escadas e sento-me no último degrau. Alienada. Entre o sono e o sonho. Entre um meio sorriso de esperança e uma lágrima de dor. Paro o mundo de dentro e volto a deixar-me embrenhar e engolir por este amor que já nem sei se é amor sequer. Paro o turbilhão de sentir e é como se saltasse em queda livre para o abismo das coisas doces e suaves, das melodias baixinhas e dos desejos concretizados. Talvez esteja a ficar insana. Talvez este amor esteja a fazer com que perca a razão. Mas sabes uma coisa, não me importa minimamente. Afinal, sempre fui mais emoção do que razão, mais coração do que lógica, mais versos do que números. E escrever para ti é o que resta deste amor inacabado. Escrever para ti, na ilusão de que irás ler estas cartas, é o meu respirar fundo, a minha catarse, a esperança renovada, o acreditar desmedido, o amor aos gritos. Escrever para ti é a minha forma de ser mais feliz, mais inteira, mais real. E mais um dia chega ao fim, já sem sol, apenas com estrelas e uma lua envergonhada. Será que amanhã regressas?
Com amor,
C.


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