quarta-feira, 17 de maio de 2017

Borboletas na Alma


Melhor do que sentir borboletas na barriga é sentir borboletas na alma. Nada se compara a esse borbulhar delicioso que incomoda e arrebata. Nada como sentir a alma em movimento. Sim, sentir a alma em movimento é das melhores sensações que há. Sentir a alma voar nas asas das borboletas é libertador. "Senti borboletas na alma no exacto momento em que tocaste na minha mão pela primeira vez". Este poderia ser o inicio de uma longa carta de amor, aquela que tenho sufocada no peito com medo de libertar. Por vezes, tenho medo das minhas próprias palavras. Tenho medo de as guardar para sempre, fechadas num cofre sem chave. E tenho medo de as libertar, de as encaminhar, de fazer com que encontrem o seu destino. "Senti borboletas na alma no exacto momento em que o teu olhar cruzou o meu e eu soube que, afinal, era possível; que, afinal, tu existias". Também poderia dizer isto, em jeito de introdução à catadupa de emoções que tenho cá dentro e não sei explicar. Talvez não haja explicação. Talvez as borboletas na alma não careçam de palavras, nem de poemas, nem de pinturas que as retratem. Existem por si só. E vagueiam numa dança sincronizada com o sentimento em crescendo no meu coração. "Senti borboletas na alma quando soube que eras tu, que tinhas caminhado na minha direcção, como se o acaso existisse, como se o Universo conspirasse". Também poderia escrever estas palavras na carta que, um dia, hei-de escrever-te. Um dia. Talvez quando as borboletas que tenho na alma se multipliquem em número e em amor. Talvez quando perder o medo [sempre o medo] de voltar aos tempos idos, onde as cartas de amor foram sempre devolvidas pelo seu receptor, adornadas com promessas vãs ou desculpas mortas ou doses excessivas de amargura. "Senti borboletas na alma quando conseguiste ler-me nas entrelinhas, quando deslindaste os meus poemas e chegaste mais perto daquilo que, um dia, foi o meu coração". Também poderia incluir este pedaço de prosa nas palavras que tanto te quero dizer. Já tinha sentido borboletas na barriga algumas vezes, e acreditava que era essa a melhor sensação do mundo. Estava tão enganada. Agora que sei o que é sentir borboletas na alma, não quero que as minhas borboletas desçam na escada e voltem a habitar a minha cavidade abdominal. "Senti borboletas na alma quando senti segurança, familiaridade, a certeza de que há tanto tempo te conhecia, de que há tanto tempo te procurava e esperava". Poderia terminar, assim, a carta que quero escrever-te. Talvez amanhã comece a escrever essa carta em forma de livro. Talvez mais logo. Talvez. Por enquanto, quero apenas saborear o doce aroma destas borboletas que decidiram colonizar a minha alma no exacto momento em que te vi. Vou cuidar para que elas se sintam sempre em casa. Vou manter a alma limpa e arrumada, perfumada e aperaltada, confortável e cheia de amor. E, assim, e eu as minhas [nossas] borboletas continuaremos a nossa dança solitária, à espera do dia em que decidas voltar para fazer parte da nossa melodia e, quem sabe, trazer ainda mais borboletas para adornar a minha alma, para extravasar a minha vida, para serenar o meu coração.

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